domingo, 17 de fevereiro de 2008

Aborto deve ser decisão da mulher, diz Ciro

17/02/2008

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

Na segunda parte da entrevista, Ciro Gomes defende descriminalizar aborto, mas não drogas. Diz que bebe três uísques para descontrair. Fagner é cantor preferido. E fala de cinema, música e futebol. Gosta da seleção de Dunga e escalaria Kaká, Robinho, Ronaldinho Gaúcho e Pato para jogar juntos. "Sou ofensivo."

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FOLHA - O sr. é a favor da legalização do aborto? Em quais hipóteses?
CIRO - O aborto é um mal. Ponto. Para os religiosos, um pecado. Para uma jovem, uma tragédia. Criminalizar o drama de uma jovem pobre que engravidou de forma imprudente, incauta, ou porque lhe faltaram contraceptivos, só produzirá mais aborto, mais violência. O aborto deve ser uma decisão da mulher. O Estado não tem nada a ver com essa decisão.

FOLHA - O sr. é a favor da descriminalização das drogas?
CIRO - Já fui, não sou mais. Estudei muito esse assunto. Os EUA adotaram regime de tolerância zero. Não funciona. Países da Europa, como a Holanda e Bélgica, resolveram descriminalizar. Não funciona. A droga é um flagelo para os jovens e é o caminho para a violência urbana assustadora que hoje domina o Brasil.

FOLHA - Como combater esse problema?
CIRO - Para enfrentar o cartel, repressão na proporção necessária. Dou todo apoio às iniciativas do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), nessa área.

FOLHA - Como tratar o usuário?
CIRO - É um doente. Como tal deve ser tratado. Deve ser cercado de muito carinho, muita compreensão. Cadeia jamais.

FOLHA - Acredita em Deus? Tem uma religião ou santo de devoção?
CIRO - Admiro a figura de São Francisco de Assis. Tenho uma crença em Deus. Crescentemente discordo da ritualística em que o amor a Deus deve ser materializado. Exemplos: o neopentecostalismo nos EUA, essa idéia de intromissão em nome de Deus no mundanismo da vida social, um garoto acreditar que vai para o paraíso se imolando, matando inocentes. Isso é uma tragédia.

FOLHA - Um ministro diz que o sr. faz um "cover honesto" do Fagner. Ele é seu cantor predileto? De quais canções gosta mais?
CIRO - É meu irmão querido. As músicas conheço todas. Já fiz "back vocal" dele, percussão em shows de verdade no interior do Nordeste, já me sentei ao lado dele horas a fio com ele compondo.

FOLHA - Tem uma canção preferida?
CIRO - Uma do Gonzaguinha que ele canta. É a canção que acho mais comovente de todas, chama-se "Guerreiro menino".

FOLHA - Como ela é?
CIRO - [Cantarolando] Um homem também chora, menina, morena. Também deseja colo, palavras amenas. Depois diz assim: "Porque o homem sem o seu trabalho, se morde, se humilha, se mata, não dá para ser feliz".

FOLHA - O sr. sente ciúme quando vê uma cena romântica da Patrícia Pilar numa novela ou filme?
CIRO - Já senti no passado. Hoje, compreendo que aquilo é pura arte. Ser casado com ela é mais um privilégio que Deus me deu. Ela não é só linda e de uma classe extraordinária. É uma pessoa humana fenomenal. Naquele momento estúpido meu? [na eleição de 2002] Quem me deu o maior apoio foi ela.

FOLHA - Quais são os seus programas de TV favoritos?
CIRO - Assisto quase nada nos canais abertos. Sou siderado no History Channel e no Discovery Civilization [TV a cabo].

FOLHA - Qual foi o último livro que leu e qual é seu predileto?
CIRO - Estou lendo uma biografia do Einstein. Meu livro predileto sempre é "Cem Anos de Solidão", do Gabriel García Márquez.

FOLHA - Qual foi o último filme que viu?
CIRO - Vejo todo dia. Ao cinema, vou com meu filho, com a Patrícia. Dois, três filmes por semana. Agora, com a Patrícia, vi um filme francês bonitinho, chamado "Melhor amigo.

FOLHA - Filme preferido?
CIRO - "Blade Runner" [de Ridley Scott].

FOLHA - É um dos meus prediletos.
CIRO - Já tem a última versão. Eu tenho todas.

FOLHA - Quais são suas bebidas preferidas?
CIRO - Não gosto do sabor, mas três uísques me dão uma descontração para uma grande festa, como essa que fui agora no Rio, no aniversário dos 70 anos do Martinho da Vila, a convite dele. Tomo sem gelo, engulo e toma uma Coca-Cola Zero em cima.

FOLHA - Três uísques são o limite?
CIRO - Não gosto de ficar bêbado. Nunca gostei.

FOLHA - Quantos maços de cigarro fuma por dia? Já tentou parar?
CIRO - Já parei uma vez e estupidamente voltei. É um péssimo hábito. Sou antitabagista. Minha geração foi vítima da desinformação. Cigarro na minha geração era símbolo de afirmação, de adultismo e de masculinidade. Fumei com 15 anos. O cigarro que fumo até hoje [Charm], eu vi pela primeira vez nas mãos de um educador. Achei bonito. Comecei a fumar detestando. Eu quero parar. Estou precisando parar. Vou parar. Hoje fumo um maço e meio por dia, um pouco menos do que fumava. Mas há épocas terríveis [fumou dois cigarros em 1h23min de entrevista].

FOLHA - Faz exercícios físicos? Qual é seu peso e altura? Controla o peso?
CIRO - Faço quando posso, mas não tenho regularidade. Meço 1,82 m e peso 86 quilos. Não preciso fazer dieta. Na campanha, emagreço drasticamente. Na última, emagreci 12 quilos. Simplesmente, esqueço de comer. Quando estou em paz, recupero os quilos.

FOLHA - Qual é seu time de futebol?
CIRO - Torço para o Guarani de Sobral, o único que me comove, fora a seleção brasileira.

FOLHA - O que tem achado da seleção do Dunga?
CIRO - Gosto.

FOLHA - Escalaria Kaká, Robinho e Ronaldinho Gaúcho para jogar juntos?
CIRO - Sem dúvida. Mais o Pato.

FOLHA - Os quatro no ataque?
CIRO - Os quatro, jogando em linha na intermediária ofensiva. Sou ofensivo. O futebol moderno é o futebol total. Tem de jogar com duas linhas de quatro, indo e voltando. Na Europa, os brasileiros aprendem isso. O Robinho, no Real Madrid, está jogando no campo inteiro. Volta para marcar. Sabia que fui comentarista esportivo em rádio no Ceará?

Kennedy Alencar, 40, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kalencar@folhasp.com.br

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